quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O GENOCÍDIO ESCONDIDO.



Sobre o caso do camelô na Lapa precisamos entender o que leva a nossa polícia que deveria proteger matar, um cidadão que está ali para trabalhar. Primeiro que o uso de arma só se faz necessário quando o policial esta com a vida exposta a iminente perigo, ou seja a população ali em volta protestando quanto a forma da abordagem não esta armada sendo assim nenhum policial tem que tirar a arma do coldre, e sim usar armas não letais, spray de pimenta e cassetete e principalmente chamar reforço. Nenhuma dessas posturas foi utilizada por nenhum policial apontando o despreparo dos mesmos, segundo a abordagem deve ser feita e a pessoa revistada também não aconteceu, no caso de apreensão o indivíduo preso deve saber por que está sendo preso outro procedimento ignorado pela PM. o policial só informa que o ambulante será preso por desacato quando a luta corporal já se estendia por alguns minutos. O uso da arma letal em nenhum momento ao meu ver é justificado nesse caso. Então nos perguntamos por qual motivo o policial faz uso da mesma? Ele sabe que diante de civis comuns será fácil argumentar e que ele mesmo não atingirá o filho de algumas pessoas de camadas sociais suficientemente expressivas para que ele fique preso e seja condenado por tal ação. Estes camelôs tanto o detido quanto o alvejado são negros pelo menos um é nordestino com idade de até trinta anos, ou seja, dentro do perfil dos homens que mais morrem no Brasil nas nossas periferias pela mão da polícia ou não estamos acostumados com esse tipo de notícia, mas se fosse um protesto da USP ou MACKENZIE tenho certeza que não teriam utilizado tais armas e isso é que configura o GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO (jovem) NEGRA, estejamos atentos. Temos vários fóruns discutindo a questão e como sempre uma grande parcela da população ignorando que nossos jovens estão morrendo então estejamos atentos.

HODARI DAMACENO ALVES.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Postura ereta. Aranha tem nosso apoio.



Poucas vezes em anos presenciamos um esportista que tenha uma visão tão clara e lúcida quanto ao racismo. Temos que exaltar a posição do goleiro, que novamente nestas semanas passado já algum tempo, continua sem querer o circo midiático que o sensacionalismo brasileiro manipula até que o gesto do infrator caia no esquecimento. Tenhamos claro que precisamos combater com argumentos sólidos os que dizem não haver racismo no Brasil, ou que os gestos dos torcedores são intra-campo e não passam das quatro linhas. Quero deixar claro, não acreditamos nisso. Nós negros precisamos entender que quando frequentamos nossa escola de samba ou o samba perto de nossa casa logicamente não seremos hostilizados(provavelmente). Mas quando invadimos um ambiente em que a maioria é branca aí que se manifesta o preconceito, no setor profissional quando atingimos cargos elevados ou no ambiente acadêmico, entre em uma sala de aula de uma faculdade e veja quantos alunos negros existe lá, isso os ofende e o jeito que eles têm para nos ofender é nos hostilizando. Enquanto houver atletas como Neymar e Daniel Alves está tudo certo, mas Aranha não. Não querem nossa organização e argumentos querem que compremos camisetas que soam como uma piada de mau gosto e aí sim podem caçoar da gente. Novamente vamos reforçar o coro junto, à todos os militantes que por meio das redes sociais vem dando o seu apoio ao atleta. A luta continua.

Hodari Damaceno Alves

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O NEO- RACISMO

MAKEDA CULTURAL COMENTA: Após uma séria de movimentações e repercussões sobre casos de racismo é inevitável que venhamos nos posicionar sobre os ocorridos. Primeiramente reitero nossa posição de apoio ao movimento e nos colocamos a disposição para continuar a luta através do que fizemos até hoje. É necessário que todos os militantes e civis estejam vigilantes com o que chamamos de racismo velado, no Brasil muitas vezes parece que somos radicais ao não gostarmos de stand-ups que usam a raça como objeto de piadas, mas isso faz com que nos conformemos que, nossa raça ou pior a escravidão possa ter alguma graça. Temos que nos ater a posição de que é tudo é piada, ou que insultos em um campo de futebol podem ficar dentro de 4 linhas, assim como nas novelas não podemos ter uma família de negros estruturada com pai, mãe e filhos com empregada doméstica e que esta não viva em favelas ou comunidades, essa alusão retrata como estamos acostumados e pior anestesiados com tal realidade a ponto de vermos os próprios negros dizendo que isso é normal. Quanto ao que o Pelé disse nem comentarei pois não esperava nada melhor do Sr. Edson Arantes do Nascimento, o que me incomoda de verdade são os programas de TV fazendo debates sem nenhum fundamento ou qualquer pessoa que tenha real contato com a militância ou pelo menos um ator negro que possa se posicionar de forma livre sem orientação de seus diretores. Estamos muito atrasados nessa questão. Ainda por isso precisamos de mais movimentos coesos e que debatam a situação. Sei que estamos em um período eleitoral mais precismos saber separar os assuntos na hora de debater, seja qual for a questão. Precisamos nos informar mais, ler, discutir, diligenciar sem negligenciar as hipóteses mais remotas de racismo para que esse não seja transformado em injúria racial e passe desapercebido como tenho visto em vários casos que acompanhei, não enquanto existir dentro de nós a lucidez a avidez pela verdade que é intrínseca mas aflora pelo menos a mim a cada momento que escuto esses casos. A sensação de impotência é gigante e só passa quando vamos aos debates as ruas à outros movimentos e percebemos que outros companheiros tem a mesma linha de raciocínio que nós e não nos sentimos só nesse embate interminável que é a luta contra o racismo.

HODARI DAMACENO ALVES

...Sessão BLAXPLOITATITON no MIS...

Vingança, heroínas e histórias em quadrinhos são retratados no MIS pelo curta-metragem“Blaxploitation: A Rainha Negra”. O filme, dirigido por Edem Ortegal, apresenta duas personagens agindo dentro de um país cuja sociedade patriarcal e machista ainda insiste em reprimir e humilhar a mulher. A sessão é exibida na terça, dia 16, às 20h, e tem entrada Catraca Livre.
No trama, a policial Eva Brown e sua esposa Jujuba, nerd e cinéfila, descobrem que um poderoso coronel do estado está envolvido em um monstruoso crime.
Ácido, pop e violento, o curta teve influência dos gêneros cinematográficos exploitation e blaxploitation (famosos principalmente nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 70) e das histórias em quadrinhos com jornadas de heróis e anti-heróis.
Serviços: MIS - Museu da Imagem e do Som de São Paulo - Av. Europa, 158

...Rosa Gonçalves conta sua preconceituosa e vitoriosa história...


O trabalho de Rosa Gonçalves como empregada doméstica em Santos (SP) no fim dos anos 70 era embalado pelos hits que saíam de um radinho de pilha, apoiado na janela da cozinha.
Um dia, perguntou para a patroa o que significava "She's my girl", nome da música de Morris Albert que fazia parte da trilha sonora da novela "Anjo Mau", em 1976.
"Ela é minha namorada", foi a resposta.
"Ah, um dia eu vou aprender a falar inglês", disse Rosa.
"Imagina, inglês é para gente estudada. Você nunca vai aprender inglês", cortou a patroa.
Rosa solta um gargalhada ao contar a história, em sua casa em Londres. Na cidade onde mora desde 1978, ela virou liderança comunitária e empresária social.
"Olha onde eu vim parar. E falo inglês melhor que muitos no Brasil hoje em dia".
O relato de sua vida foi registrado neste ano pelo Clique Brasiliance, um projeto de valorização da história da comunidade brasileira em Londres que colheu depoimentos de onze pessoas que emigraram do Brasil entre os anos 60 e 80.

Entre a roça e a cozinha

Rosa cresceu em Amparo, no interior de São Paulo. Ela conta que aos seis anos foi treinada para ser empregada. "Porque até aí eu sabia fazer o trabalho em casa, mas não na casa dos outros", diz. Nesse dia, cozinhou e serviu seu primeiro almoço - matou uma galinha, a cortou em pedaços e refogou com chuchu.
Depois disso, passou anos se revezando entre o trabalho na roça e como doméstica. Aos 18, foi trabalhar para uma família em Santos. A jornada era quase ininterrupta – havia um dia de folga, às vezes apenas uma tarde, por semana.
Em uma ocasião, as crianças a chamaram de "King Kong", imitando gestos de macaco. "Quando me levantei para sair correndo atrás delas, foram chamar um tio, que quis me bater", conta ela.
Cerca de dois anos depois, em 1978, ela foi convidada por outra família a se mudar para Londres, onde trabalharia como empregada por dois anos. Mesmo diante do desafio de emigrar para um país totalmente diferente e distante, Rosa achou que era a chance de "andar para a frente".
O início foi muito difícil, mas ela não teve vontade de voltar.
"Quando eu cheguei aqui eu chorei por seis meses. Uma dor tão grande. Escrevia carta todos os dias. Não mandava todos os dias, então as cartas iam todas numeradas. Mas eu achava que se eu voltasse a vida podia ser pior", contou.

Ilegal

Depois de um ano, Rosa deixou o emprego de doméstica e passou a ser camareira em um hotel, onde ganhava 35 libras por semana para trabalhar de 7h às 14h, todos os dias da semana. De tarde, fazia diárias em pousadas por 5 libras. Atualizado pela inflação, isso seria o equivalente a uma renda semanal de cerca de 225 libras hoje ou R$ 850.
Seu visto de dois anos venceu e a brasileira continuou ilegalmente em Londres. Quando se recusou a se relacionar com um homem, amigo do dono de uma pousada onde alugava um quarto, foi denunciada para a imigração.
Rosa passou a tarde na cela de uma delegacia de polícia, mas acabou sendo liberada. Era início dos anos 80, época de protestos violentos em Brixton, bairro de forte migração afrocaribenha no sul de Londres. A tensão racial era alta no período e havia problemas mais sérios para a polícia se preocupar, conta. Depois disso, conseguiu regularizar sua situação.

Líder Comunitária

Rosa passou anos morando em quartinhos alugados até que, em 1984, se mudou para um apartamento em Ferrier Estate, uma espécie de conjunto habitacional em Greenwich, no sudoeste de Londres, com prédios de concreto onde viviam cerca de 5 mil pessoas.
Ela gostava do local e de sua diversidade – havia pessoas dos mais variados locais do mundo, ela lembra. Mas Ferrier Estate era considerado decadente e perigoso e o governo local decidiu demoli-lo para dar lugar a um mega empreendimento imobiliário.
Controverso, o processo se arrastou por mais de um década. A ideia começou a ser discutida em 1999, depois de alguns anos começaram as remoções e apenas em 2010 teve início o processo de demolição. O novo condomínio ainda está sendo erguido.
A perspectiva de demolição de sua casa levou Rosa a participar das negociações sobre como as pessoas seriam removidas, para onde seriam levadas e quais seriam seus direitos. Acabou se tornando uma liderança do bairro.

Empresária Social

Hoje, aos 57 anos, ela mora em outra casa em Greenwich com seus três filhos, frutos de dois casamentos, e dirige uma empresa social, o Guarida Community Café.
Atualmente, a companhia está em fase de captação de recursos para abrir um café na comunidade em janeiro, num espaço cedido pelo governo local. O objetivo é oferecer treinamento e trabalho para jovens de Greenwich, tanto na área de gestão e administração como na cozinha e no atendimento ao público.
Mais para frente, Rosa também quer fazer um intercâmbio com comunidades pobres brasileiras - levar jovens que participam do Guarida Community Café para morar e trabalhar numa favela do Brasil e trazer jovens dessa comunidade para conhecer o projeto em Greenwich.


Ela acredita que essa será uma experiência importante para que jovens das classes menos favorecidas de Londres valorizem o que têm. "Eles têm tudo, mas acham que são coitadinhos. O intercâmbio vai mostrar que há outros jovens como eles, que vivem realidades mais difíceis. A experiência servirá para que, em vez de ficar se lamentando, cresçam", acredita. O projeto é uma forma também de se reconectar com o país. Há 36 anos em Londres, ela só voltou três vezes ao Brasil. O plano é comemorar seus 60 anos lá. "Morro de saudades", suspira.

Brasiliance

O projeto Brasiliance foi financiado com recursos da loteria britânica destinados à preservação da história de diferentes comunidades na Grã-Bretanha.
Os depoimentos dos onze brasileiros ficarão disponíveis no Instituto de Estudos Latino Americanos (The Institute of Latin American Studies).
Eles serviram de inspiração para a peça Kitchen, da brasileira Gaël Le Cornec, uma das pessoas que foi treinada para colher os depoimentos. O espetáculo deve entrar em cartaz em Londres em maio de 2015.
"História oral é uma coisa fundamental. É uma forma de ver a história de outra forma, pelo que as pessoas viveram e não só pelos livros", acredita Gael.
Os motivos que trouxeram os brasileiros entrevistados para Londres foram variados - alguns vieram estudar, outros trabalhar e parte emigrou por causa da ditadura militar (1964-1985). Nenhum tinha planos de se instalar definitivamente, mas acabaram ficando. "Eu vi que essa pessoas se integraram na comunidade inglesa ou com a comunidade local em que eles vivem", conta.
O projeto Brasiliance deu origem também a um livro e a um DVD infantis que foram distribuídos em escolas de Londres.
*Fonte: site UOL

...Hoje o Encontros Poéticos é com Paula Lima...


...Conheça Amílcar Cabral, o Poeta Africano...

Por que alguém se preocuparia em calar a voz de um poeta? Que horrores, que perigos poderiam conter suas rimas a ponto de levar alguém a um ato tão extremo? Por que será que as palavras, em sotaque lusitano, do cabo-verdiano Amílcar Cabral despertaram tão profundo e intenso ódio em seus algozes? Será que a palavra é uma das armas mais temidas por aqueles só são capazes de se valer da violência?
A quem vive em tempos de paz é quase impossível se conceber o veneno que impregna das entranhas e as mentes, em períodos de guerras, quando os que realmente ganham, e muito, são apenas os fabricantes de material bélico. Nos anos 70, grande parte do que foi produzido pela indústria das armas e munições foi despejado no continente africano.
Amilcar era guineense de Bafatá. Tinha oito anos quando a família se mudou para a ilha de Cabo Verde e ele se transformou em cabo-verdiano de alma. Dez anos depois, atuou na imprensa, antes de seguir para Portugal para estudar agronomia. Longe de casa, escrever poemas é a melhor maneira do desterrado se sentir deitado ao colo da mãe.
Uma mãe que é a própria África: “Mamãe Velha, venha ouvir comigo/O bater da chuva lá no seu portão/É um bater de amigo /Que vibra dentro do meu coração…”Ao retornar, em 1952, traz no peito não só os versos, mas o anseio de libertação que o tornará “o pai grande” da nacionalidade de sua pátria e lidera, quatro anos depois, a criação do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC).
Cantar sua terra e o seu povo, para esse que foi um dos mais carismáticos líderes africanos de seu tempo, era tão ou mais intenso que disparar mísseis contra o colonizador: “Tu vives – mãe adormecida- / nua e esquecida,/ seca, / fustigada pelos ventos, / ao som das músicas sem música / das águas que nos prendem…” Versos que atravessaram o Atlântico e inspiraram do lado de cá alguns dos grandes poetas negros brasileiros, entre outros, o Cuti, o Arnaldo Xavier, o Paulo Colina, o Hamilton Cardoso, cujo filho se chama Amilcar, em homenagem ao poeta-herói-mártir.
Nos saraus que os militantes do Movimento Negro realizavam nas décadas de 1970 e de 1980, impossível não declamar seus versos: “Quem é que não se lembra / Daquele grito que parecia trovão?! / – É que ontem / Soltei meu grito de revolta. /Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra, / Atravessou os mares e os oceanos, / Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,/ Não respeitou fronteiras / E fez vibrar meu peito…” Um peito revolucionário que jamais se furtou a homenagear às mulheres negras, tão pouco exaltadas e valorizadas por nós, homens negros: “Rosa, / Chamam-te Rosa, minha preta formosa / E na tua negrura / Teus dentes se mostram sorrindo. / Teu corpo baloiça, caminhas dançando, / Minha preta formosa, lasciva e ridente / Vais cheia de vida, vais cheia de esperanças / Em teu corpo correndo a seiva da vida…
”Em 2001, a cineasta Ana Ramos Lisboa produziu um documentário com depoimentos de várias pessoas que conviveram com Cabral, entre elas, sua esposa Ana Maria, única testemunha de sua execução, em que o apresenta não só como político, mas um humanista que desempenhou um papel fundamental à cultura tanto de Cabo Verde quanto da Guiné-Bissau. Ao rever esse filme, tornou-se impossível não escrever sobre os versos desse imortal poeta.

*Fonte: Portal Geledés